José Luís Peralta defende os interesses do concelho de Espinho há mais de um quarto de século.
O doutor da política e do desporto
Não há na cidade quem não o conheça. Com passagens pelo desporto, nomeadamente no Sp. Espinho, com especial relevância na vida política da cidade e com a paixão pelo exercício da sua profissão, a medicina, José Luís Peralta é um dos expoentes da massa crítica ao actual executivo camarário liderado por Pinto Moreira. Como nem só de crítica vive o Homem, quisemos conhecer melhor a face humana do líder da Bancada PS na Assembleia Municipal.
Qual é a sua ligação com o desporto?
Pratiquei futebol em Angola e, quando frequentei a Faculdade de Medicina do Porto, também joguei futebol universitário. Aliás, cheguei a ser campeão numa época.
Praticou outra modalidade?
Gostava muito de basquete. Inclusivamente, fiz parte das últimas equipas da Associação Académica de Espinho.
Como é que começou a sua experiência como dirigente do Sp. Espinho?
Sou sócio do Sp. Espinho desde 1974 e já recebi a Medalha Comemorativa dos 25 anos de associado. Quando a direcção presidida pelo Ilídio Silva caiu criou-se um vazio directivo. Na altura, o Fernando Rocha constituiu uma equipa de trabalho e convidou-me para a integrar.
Recordo-me que esse mandato foi conturbado…
De facto foi. Foi um mandado muito difícil, em parte pela inexperiência da maior parte dos directores. Por outro lado, sofremos as consequências de ter confiado demais no próprio presidente Fernando Rocha.
Não havia dificuldades já do passado recente?
Aconteceu que tivemos de reconverter todo o sistema de contabilidade do clube. Nessa altura, herdámos uma série de dívidas que vinham de direcções anteriores, nomeadamente a conta do IVA que nunca tinha sido aberta. Nós criámos essa conta e, naturalmente, tivemos de a suportar.
Como foi possível uma situação dessas?
O dirigismo da altura era muito pouco profissional. Vivia-se o tempo que o valor dos recibos eram multiplicados por três e, dessa forma, não era difícil gerir um clube. Ainda por cima quando se deixa os valores do IVA para serem pagos pelas direcções seguintes.
Então, é uma experiência que não quer repetir?
Nunca digo que “dessa água não beberei”. Além disso, ainda faço parte do Conselho Geral do Sp. Espinho e acompanho muitos dos dirigentes do clube.
Porque é que saiu da direcção do Sp. Espinho?
Sai por uma coisa muito simples: nunca concordei, nem concordo, que seja gasto qualquer verba nas instalações do Sp. Espinho. É minha a frase “para o Estádio nem mais um prego”. Na altura, fui eu que acabei com as bancadas de topo porque não fazia sentido que o clube gastasse com elas cerca de 4.000 euros por jogo. Sei que houve resistência de vários sócios mas tomei essa decisão por razões meramente económicas. Como se continuou a gastar dinheiro com o Estádio não tive outra alternativa e sai.
Essa posição está interligada com a persecução do Plano Estratégico do Sp. Espinho?
Está ligada mas posso ir mais longe e afirmar que é uma posição com mais de trinta anos. Fui uma das pessoas que se opôs à construção da bancada que foi feita sobre a Avenida 8. Já nessa altura, e isso está registado pela imprensa da época, tinha a convicção de que não fazia sentido o Estádio Comendador Manuel Oliveira Violas se localizasse naquela zona. Sempre foi minha opinião que o Estádio deveria ser transferido para o Parque da Cidade. Ou seja, é uma opinião que defendo desde 1985.
Mas ainda continua a colaborar com o clube…
Tenho colaborado na condição de médico e vou continuar a colaborar. Aliás, foi-me solicitado que assumisse maiores responsabilidades nessa área e estou a ponderar aceitar.
Como comenta o colapso do Pavilhão Joaquim Moreira da Costa Júnior?
Foi uma tragédia anunciada. Felizmente não teve custos humanos mas poderia ter tido. O que aconteceu só prova que não há justificação para continuar a fazer investimentos nas instalações desportivas do clube. É necessários que sejam criadas as condições para que o novo pólo desportivo seja construído.
Essa construção não está emperrada com o negócio da venda do Estádio do Sp. Espinho?
É verdade mas fiquei surpreendido quando, à acerca de 16 meses, o actual executivo do clube tomou posse e quinze dias depois apareceu na capa do Jornal Defesa de Espinho que, finalmente, o problema do Sp. Espinho estava resolvido.
A faceta de médico
Quando é que sentiu o apelo pela medicina?
A minha opção pela carreira de médico aconteceu quando tinha catorze anos, no princípio dos anos 70, e tomei a decisão de me candidatar à Faculdade de Medicina em Luanda, Angola. Entrei em 1973 na faculdade já com a convicção de que ser médico era o meu destino. Aliás, todo o meu percurso profissional que passou pela Pediatria, Reumatologia Pediátrica, Alergologia e a Medicina Desportiva foi feito segundo as minhas próprias opções.
A medicina é uma paixão?
Tenho o privilégio de fazer aquilo de que mais gosto. Portanto, posso afirmar que a Medicina é uma paixão. Aliás, costumo dizer que sou como os jogadores de futebol: divirto-me a trabalhar.
As origens
Já fez várias referências a Angola…
Porque foi lá que nasci, mais propriamente numa localidade que se situa a norte na fronteira com o Congo. Curiosamente, houve uma certidão de nascimento onde constava a minha naturalidade como sendo do Congo. Isso criou-me alguns engulhos porque cheguei a ter duas nacionalidades (risos).
Foi lá que passou a sua juventude?
Passei lá poucos anos e vim para Portugal e para Espinho. Frequentei a Escola Primária que funcionava onde hoje é o edifício Sede da Junta de Freguesia de Silvalde, de onde os meus pais eram naturais.
Voltou a Angola, portanto…
Regressei ainda durante os anos sessenta mas fui morar para Luena (antigo Luso) e que é conhecida como sendo a terra do Jonas Savimbi. Também foi aí que a minha consciência política despertou fruto do meu contacto com os oficiais militares que foram destacados para aquela zona de guerra e em que se discutia a oposição ao Estado Novo. Foram esses contactos que me permitiram ter acesso a realidades meio escondidas da sociedade portuguesa.
Sente nostalgia por Angola?
Sem dúvida. Curiosamente, nunca mais lá voltei mas tenho tentado voltar lá. Cheguei a ter viagem marcada mas não fui por problemas de saúde. Agora, África será sempre África e sinto que tenho uma costela desse continente. Inclusivamente conheço bem ambas as costas africanas e posso mesmo afirmar que África também é uma paixão.
Teve de regressar, naturalmente, a Portugal…
Tive de volta, como toda a gente. Já tinha concluído o primeiro ano da Faculdade de Medicina em Luanda e por isso vim directamente para o segundo ano da Faculdade do Porto. A minha formação foi toda feita no Hospital de S. João, excepto os dois anos que estive em formação em Paris.
Paulo Duarte
EM CAIXA
José Luís Peralta vincou a sua militância numa fase má do Partido Socialista
A militância política
Como é que começou a militância política?
Começou quando já estava em Portugal, embora gostasse de acompanhar desde os tempos em que estive em Angola. Recordo-me de muitas discussões saudáveis com o Pacheco Pereira quando este foi professor na Escola Secundária Sá Couto, assim como com o Dura Barroso. Inclusivamente, eles apelidaram-me de revisionista embora nunca tivesse sido militante do Partido Comunista. Aliás, sempre me situei numa ala esquerda bastante moderada. Passei pelo PRD quando senti algum desvio do ideal do Partido Socialista mas depressa percebi que o PRD era uma utopia.
Eram tempos de convicções políticas fortes…
Lembro-me de muitas peripécias, de várias discussões e recordo-me bem de ter tido algumas desavenças políticas no Café Parque que era um espaço de convívio onde hoje está localizado o Centro Multimeios. Era ali que se reuniam as pessoas mais ligadas à esquerda Maoísta. Era ali que se espetava espinhas na garganta do Álvaro Cunhal (risos).
Era essa a sua tendência?
Bom, quem não era por eles, era contra eles. Tinha vindo de Angola e, como não era claramente um apoiante da UNITA, tinha que ser visto apoiante do MPLA e, por consequência tinha de ser visto como revisionista.
Até que começou a ter uma participação activa na vida política espinhense…
Comecei por integrar a Assembleia Municipal como eleito local pelo PRD desde 1985. No entanto, fui apoiante do Rolando de Sousa e fui mesmo uma das pessoas que sustentou as posições do Partido Socialista chegando, mesmo, a ser uma voz dentro do Partido.
Acabou por passar em definitivo para o PS…
Inevitavelmente e recordo Carlos Gaio, Tozé Lacerda e Nuno Barbosa. Fomos, em conjunto, quem mais voz deram ao Partido Socialista dentro da Assembleia Municipal naquela altura.
Quando é que se fez militante?
Curiosamente, isso aconteceu, a par com Jorge Monteiro, quando Jorge Sampaio perdeu as eleições legislativas. Foi uma forma de demonstrar solidariedade ao Partido. Recordo que foi o Rolando de Sousa que assinou a nossa ficha de militância na sede do PS. Não entrei no PS numa época áurea. Entrei numa fase muito difícil.
Esteve sempre na Assembleia Municipal?
Estive sempre apenas com interregno que coincidiu com o primeiro mandato de José Mota. No segundo mandato regressei e mantive-me até hoje.
Paulo Duarte
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“um olhar sobre a cidade”
PS vai faltar à Assembleia Municipal de hoje
O líder da Bancada PS, José Luís Peralta, tem a convicção de Espinho evoluiu nos “últimos dezasseis anos” e que dos últimos dezoitos meses nada ficará para a história. A lua-de-mel do actual executivo deverá ter acabado e a reacção começa hoje quando a Bancada PS faltar à Assembleia Municipal.
A cidade de Espinho evoluiu ou regrediu nos últimos dezasseis anos?
Quando as pessoas afirmam que Espinho regrediu durante os três mandatos de José Mota não têm a mínima noção daquilo que querem dizer. Esquecem-se que Espinho, há dezasseis anos, acabava pouco acima da Rua 24.
Houve, de facto, uma expansão. E ao nível de infra-estruturas?
O que existia era decadente. Existia uma piscina sem grande capacidade de utilização feita como contrapartida do jogo. O Estádio da Avenida já estava como hoje está assim como a Tourada. Não sei o que é que havia mais.
E passou a haver?
Com José Mota apareceram as estruturas que dão a possibilidade de colocar Espinho no mapa. Foi uma boa gestão assim como a anterior, a de Artur Bártolo que fez, claramente, a revolução da cidade ao nível do saneamento e do abastecimento de Água. Houve erros nessa obra mas deverá ter sido a obra mais significativa na história de Espinho. A construção do Bairro da Ponte de Anta foi algo de muito inovador para a época.
O enterramento da linha foi bem concebido? Há as zonas a norte e a sul que dividem as populações…
O grande erro nos contactos com a população foi neste sentido. Devia-se ter vedado a linha em todo o seu comprimento desde Paramos até à saída do concelho com grades conforme diz a lei. As pessoas ficariam isoladas e perceberiam melhor a nossa proposta de enterramento. Perceberiam que estariam pior do que estão agora. Foi essa a ideia que transmiti aos meus colegas de Partido.
Mesmo assim, as zonas que não foram enterradas não estão em estado condigno.
Se me diz que essas zonas não estão dignas, então digo-lhe o seguinte: São zonas que não merecem estar integradas na linha da Costa Verde! Agora, todo o projecto inicial está adulterado. Quiseram, de uma forma apressada, esbanjar dinheiro que não faz sentido.
Não faz sentido?
Quando se parte para os tais acabamentos de que Espinho necessita, não se podem fazer acabamentos de má qualidade, mal planeados, sem saber o que se está a fazer.
Como assim?
Veja as rotundas que se fizeram fora do eixo viário e outras situações que, do ponto de vista estético, são altamente deploráveis. Coisas que se fizeram porque apenas se quis fazer flores.
Não acha que houve intenção deste executivo camarário em recolocar Espinho no mapa turístico com a sua política de animação?
Fala-se muito em recolocar Espinho no mapa mas fizeram-se coisas sem ter nenhuma noção do retorno. Penso que este executico começou. De uma forma célere, a fazer coisas. Por exemplo. A primeira coisa que fez foi retirar a famosa rampa da Rua 23 e agora temo uma rampa ao contrário na Rua 19 junto ao João de Deus. Não será isto muito pior?
Há mais exemplos?
Porque é que foi colocado piso novo em algumas zonas de artérias urbanas? Se calhar percebe-se se a intenção foi “fabricar” estrategicamente uma pista de karting. Hoje, passa-se por essas zonas e pode-se verificar o actual estado do piso. Não interessa saber quanto se gastou porque foi, claramente, dinheiro deitado ao lixo.
Este executivo não tem feito obra?
Fizeram. Pavimentaram passeios e deram continuidade às obras da Feira dentro daquilo que já estava previsto. Depois pararam. Na zona da Avenida 87 não sei aquilo que lá está. Julgo mesmo quie fere algumas condições de segurança que são exigíveis para uma zona daquelas.
São essas as críticas que faz?
Digo-lhe mais. Em termos estéticos, gostos não se discutem, mas não acho que tenha sido uma obra bem feita.
Pensa, então, que José Mota foi um bom presidente de Câmara Municipal…
Foi com ele que Espinho passou a ter acessibilidades. O enterramento da linha é, de facto, a obra do século. Não só evitou que Espinho estivesse partido em dois como permite o surgimento de uma zona que funcione como pólo de captação de visitas para a cidade.
Essa obra é recente…
Também houve a construção de várias obras em simultâneo: A Nave Desportiva, o Multimeios, a renovação das Escolas, o FACE, toda a recuperação do centro da cidade, o Clube de Ténis, o Pavilhão Municipal de Anta e ainda mais coisas. Foram mandatos de construção de grandes obras. È verdade que faltaram os acabamentos mas essa era a grande aposta de José Mota para mais um mandato: a finalização da obra.
Mas não foi isso que aconteceu.
Infelizmente, não. O povo não quis dar essa oportunidade e temos de respeitar essa opção.
Que comentário lhe merece o facto de a nova Biblioteca não ter sido inaugurada?
Bom, esse problema nem quero discutir. Parece-me que levou 18 meses para se descobrir o nome. Prezo muito o Marmelo e Silva e tenho pena que o seu nome fique ligado a estas peripécias borlescas de uma Biblioteca eternamente adiada. Aliás, penso que essa pergunta deveria ser feita ao actual presidente de Câmara Municipal. Tem o dever de explicar que teimosia tem levado a que essa estrutura não seja utilizada.
Segundo informações já dadas à Assembleia Municipal, o atraso tem a haver com os concursos para a dotação da estrutura de apoio e uma desratização…
Bom, não fui a essa Assembleia Municipal porque não pude por motivos pessoais. Aliás, escrevi uma carta ao senhor presidente da Assembleia Municipal referindo-lhe que sempre que estas fossem não fossem convocadas nos termos regimentais, eu não iria. Há até uma convocatória que a data constante do documento não cumpre os quinze dias legais.
Hoje há a realização de uma Assembleia Geral…
E o Partido Socialista não irá comparecer a essa Assembleia. Desta vez, vamos obrigar a que o regimento seja cumprido.
E o que é que o Regimento diz?
Que quando há erro nas convocatórias, a Assembleia Geral não se pode realizar. O PS irá concretizar esta opção porque eu próprio não estava disponível para regressar à Assembleia Municipal porque os pressupostos legais não estão cumpridos. Por outro lado, a ordem de trabalhos não tem qualquer substância ou justificação da sua realização. Não há nada de importante para decidir.
Questiona o timing desta Assembleia Municipal?
Se a intenção era cumprir uma questão formal no sentido da sua realização antes do dia 28 de Fevereiro não se entende que a convocatória tenha sido feita dentro dos prazos legais. Depois, não posso aceitar o que aconteceu na anterior Assembleia Municipal.
O que é que aconteceu?
Não posso admitir que o senhor funcionário da Câmara Municipal de Espinho me venha tirar da cama às 23h 15m para me entregar uma convocatória que também estava fora do prazo. Penso que isto é provocatório e é uma completa falta de respeito pelos elementos da Assembleia e com a qual não vou compactuar. Assim como é provocatório receber um telefonema do mesmo funcionário, o Luís Pinho, às 11h para uma Reunião de Câmara às 15h dessa mesma tarde.
Qual foi a sua reacção?
Escrevi ao senhor presidente da Câmara Municipal perguntando porque é que se reunião era tão urgente porque é que não fui convocado dentro dos prazos. Não obtive resposta até agora.
Estas questões são assim tão importantes a esse ponto?
As pessoas podem achar isso. Mas essas pessoas não devem estar recordadas do que o Partido Social Democrata fez no mandato anterior de José Mota. As pessoas não estão lembradas de que houve Assembleias Municipais adiadas ou desmarcadas por questões idênticas ou ainda de menor importância? Não pode haver legitimidade de quem exigiu esses procedimentos e agora tem este comportamento.
Quais são as consequências directas da vossa falta à assembleia Municipal?
A sua realização não pode acontecer. E ao contrário do que o PSD fez no passado que utilizou este argumento em situações cruciais para a vida da autarquia, nomeadamente quando estava em causa a aprovação de um empréstimo necessário para fazer pagamentos a tempo e horas, a Bancada PS não o faz numa Assembleia com importância para a cidade.
Por isso o vão fazer precisamente nesta?
Claro, porque temos consciência de que os documentos em apreciação não têm nada de importante. Esta Assembleia Municipal foi convocada para cumprir formalismos legais. Mas para os cumprir, a convocatória também deveria cumprir os prazos legais.
O que pensa que está por detrás disto tudo?
Está prepotência, arrogância e desrespeito pela oposição.
Não reconhece empenho neste actual executivo?
O que é que este executivo fez? Fez Ernestos e Toni´s Carreira. Ninguém me consegue apontar uma única obra de sustentabilidade para o concelho. A única coisa que se fez é festarolas e mais nada. Mesmo as coisas que poderiam fazer, como é o exemplo claro da biblioteca, estão paradas. Ora, não era esta a postura destes senhores quando estavam na oposição. Pergunto o que é que fica para a história destes últimos dezoito meses.
Paulo Duarte
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