O vogal PS da Assembleia Municipal, Luís Neto, tem uma convicção
Nasceu nas vésperas de Natal mas não foi um nascimento pacífico. Os tempos eram outros, a assistência médica não era a melhor mas tudo acabou em bem e Luís Neto prosseguiu a sua vida de criança até ao dia em que se fez homem. Espinhense atento, Luís Neto fez para o Jornal espinho Alerta a sua análise do contexto político actual. Naturalmente, as críticas duras marcaram presença.
“… incapacidade de se pensar mais à frente. O actual executivo pensa que falar de uma forma má do anterior lhe trás dividendos políticos e eleitorais a curto prazo. A verdade é que se estão a adiar vários problemas e não se estão a tomar as medidas necessárias relativas aos equipamentos.”
Como tem sido o seu percurso de vida?
Nasci em Espinho e foi aqui que passei toda a minha infância. Comecei na Escola Primária no edifício onde hoje é a Junta de Freguesia de Espinho e depois passei para a Escola Básica nº 2. De lá, passei para a Escola Secundária Dr Gomes de Almeida onde estudei até ingressar Instituto Superior de Engenharia. Fiz o bacharelato e mais tarde a licenciatura. Nos últimos seis anos, tenho-me dedicado à assessoria de empresas. Hoje, sou vogal do Grupo Parlamentar do PS na Assembleia Municipal de Espinho a cumprir o meu primeiro mandato.
Lembra-se quando é que começou a interessar-se peça política?
A política sempre esteve dentro de mim desde muito jovem, mesmo quando ainda não tinha entrado para a vida política activa e para a Juventude Socialista, pois tive sempre a preocupação de retirar informação dos jornais para me manter actualizado.
Mas acabou por assumir um papel activo…
Mais concretamente em 2003. Foi nessa altura que achei que deveria dar o meu contributo ao Partido Socialista. Nesse ano, fui o Secretário-Coordenador da Secção de Espinho. Em 2006 assumi o cargo de Secretário Distrital onde já cumpro o terceiro mandato.
É uma experiência importante?
A responsabilidade de ser um dirigente distrital abriu-me outras perspectivas de análise política, nomeadamente a nacional. Sendo um regionalista convicto, penso que Portugal está a adiar em demasiado as reformas que estão previstas na Constituição desde de 76. De qualquer forma, toda esta experiência tem feito de mim uma melhor pessoa e tenho constatado as dificuldades nacionais, nomeadamente as referentes à Dívida Pública. Não é nada que seja algo de novo pois em 78 e 83 também passámos por grandes crises económicas. Mas penso que também vamos superar esta embora com medidas muito mais duras do que aquelas que se vão prevendo.
Passando para o concelho de Espinho, como analisa as duas últimas décadas?
Creio que foram feitas muitas coisas boas. Este preciso local onde nos encontramos (Bar Marbello no final da Avenida Maia/Brenha) é um bom exemplo de urbanidade. Recordo-me que aqui havia uma estrada e a praia. Hoje é um lugar aprazível onde podemos usufruir de qualidade de vida. Mas há muitos mais exemplos…
É capaz de os enumerar?
O FACE nasceu num local completamente abandonado e hoje é uma referência cultural. Foi um investimento muito bem feio e não há muitos equipamentos daquele cariz na área metropolitana. Foi pena que a sua construção tivesse demorado tanto mas isso também teve a ver com problemas burocráticos alheios ao executivo de José Mota. A Nave Desportiva foi feita na melhor altura. Actualmente, ou nos últimos cinco anos, é impossível construir algo com aquelas características.
Muitos apelidam essa estrutura de “elefante branco”…
É uma estrutura que, de facto, onera o erário público face à sua manutenção cara. Podia-se ter feito uma parceria com uma entidade privada que garantisse a cobertura dos custos. De qualquer forma, penso que a política do anterior executivo não seria onerar o cidadão comum enquanto utente.
O Multimeios foi um bom investimento?
Creio que o Multimeios foi uma pedrada no charco em termos de equipamentos culturais e de conhecimento pois a astronomia assume um papel de relevo nacional e internacional muito grande. António Pedrosa é uma pessoa excelente para dirigir um departamento que dá muito a Espinho e a Portugal.
Mesmo assim, o executivo anterior tem sido alvo de bastantes críticas…
Posso dar-lhe o exemplo do Auditório. Não foi muito bem rentabilizado mas também não vejo que o seja com este executivo. Penso que as pessoas não deveriam falar mal por falar. É verdade que houve alguns erros mas também houve muitas coisas boas. A cidade evoluiu muito, nomeadamente em termos de equipamento. Penso que as críticas feitas na última década não fazem muito sentido.
Esses equipamentos não continuam a beneficiar o concelho?
Exactamente. Houve uma contradição muito grande logo no início do mandato do actual executivo. As mesmas pessoas com responsabilidades autárquicas que hoje criticam esses equipamentos, na altura enalteceram o que tinha sido feito. Isto não me parece sério. Sério seria ter alterado a sua orgânica e funcionamento e isso, até hoje, não se tem manifestado.
Não foi porquê?
Talvez por incapacidade de se pensar mais à frente. O actual executivo pensa que falar de uma forma má do anterior lhe trás dividendos políticos e eleitorais a curto prazo. A verdade é que se estão a adiar vários problemas e não se estão a tomar as medidas necessárias relativas aos equipamentos.
São, então, críticas fáceis?
O que lhe posso dizer é que todos somos críticos mas quando se critica e se é eleito executivo deve-se alterar aquilo que se criticou, nomeadamente ao nível das ideias inovadoras na rentabilização dos equipamentos.
Paulo Duarte
Texto de apoio (Tiago, coloca em relevo o mais que puderes)
As razões para o despesismo, segundo Luís Neto
Os dois pontos mais quentes da discussão política actual prendem-se com a política de animação do executivo PSD e com a nova Alameda 8.
A solução dada à Alameda 8 foi a melhor?
Perdeu-se a oportunidade de dinamizar todas uma cidade ao não se pôr em marcha o projecto delineado.
Está a falar do projecto inicial…
Estou a falar do único projecto elaborado e que ganhou o “Concurso de Ideias”. Aliás, o actual presidente da Câmara Municipal foi o mentor da proposta relativamente a esse concurso. O Júri elegeu o projecto do arquitecto Rui Lacerda como o melhor e não percebo porque é que o actual executivo não põe em marcha esse projecto.
E é um bom projecto?
É um projecto que tem a capacidade de dinamizar Espinho a muitos níveis. Ao nível da Animação pela construção de equipamentos vitais para a qualidade de vida das pessoas e pela requalificação dos edifícios que se degradam na zona envolvente e que serviriam de “charrua” a mais investimento privado.
Não foi uma boa solução, portanto…
O actual executivo não está a funcionar como uma alavanca para o progresso de Espinho, está, pelo contrário a retardar completamente o seu desenvolvimento. Isto porque não têm uma política pública que incentive o capital privado a investir, seja o que for, no concelho. Isto é, de facto, deprimente.
Concorda com a política de animação deste executivo?
Não discordo de políticas de animação pública. Agora, olhando um bocado para o país, vive-se em Espinho acima das possibilidades. Não percebo como é que tínhamos uma dívida de curto prazo no final de 2009 de 9,5 milhões de euros e em Setembro passámos para 15 milhões de euros. Hoje, já vamos em outro patamar. Gastar dinheiro desta forma, não pagar aos seus fornecedores a tempo e horas, piorando o rácio económico faz com que as coisas não sejam bem pensadas.
Porque é que acontece assim?
Porque há o objectivo único do próximo acto eleitoral em 2013. Se as pessoas que estão na Câmara Municipal fizessem o que deviam, hoje estaria em marcha uma obra de vulto que daria muitos frutos nos próximos dez anos. Estamos a atrasar a resolução dos problemas mais uma geração e, por isso, é esta a minha convicção pessoal da razão pelo qual este executivo é nocivo para o desenvolvimento de Espinho.
Paulo Duarte
Segundo texto
A Assembleia Municipal
“Os novos Centros Escolares ainda não estão candidatados. No último relatório operacional do QREN referente à região norte, não há novas candidaturas aos Centros Escolares, a não ser daqueles três que o anterior executivo PS tinha feito a candidatura até 2009.”
A Assembleia Municipal (AM) tem sido um órgão útil na discussão dos problemas de Espinho?
Em muito aspectos sim. É a primeira vez que sou vogal na AM e também vou evoluindo. É preciso estudar os dossiers, estar atento ao dia-a-dia da política e da forma como a Câmara Municipal é gerida. Por exemplo, o regimento prevê a constituição de uma Comissão de Orçamento e Finanças que é essencial para se fiscalizar o órgão executivo.
É um órgão fiscalizador?
Por vezes é preciso chamar a atenção de determinados aspectos e tomar deliberações. Há muitas questões de fundo mas tudo fica dificultado quando o executivo não nos dá os elementos que achamos pertinentes para que haja a devida discussão.
Está-se a referir às vintes questões colocadas e nunca respondidas?
Estou-me a referir às vinte questões, às deliberações e à não constituição da Comissão de Orçamento e Finanças e que foi uma proposta do PS. Quanto às vinte perguntas, estas são totalmente pertinentes quanto aos investimentos que foram prometidos e que ainda hoje estão em banho-maria.
Mas não é só por essa questão, de certeza…
Claro, porque achamos que o orçamento não é cumprido, o relatório de contas vai ser discutido agora e porque verificamos uma derrapagem orçamental muito grande nomeadamente nas dívidas a curto prazo. Por outro lado, as despesas correntes representam cerca de 70% do orçamento e apenas 30% para investimento. E, como se vai percebendo, nem esses 30% estão a ser cumpridos.
Há um ponto tem sido muito debatido e que tem a ver com a divulgação dos fornecedores…
Este executivo, quando iniciou o seu mandato garantiu que iria usar de transparência e que iria trabalhar com todas as forças políticas. O primeiro relatório da presidente da Câmara Municipal costumava ter a relação de todos os fornecedores a quem se devia e nunca isso aconteceu e isso nunca mais irá acontecer porque não é obrigatório por lei. No entanto, a decência democrática de quem exerce o poder deve facultar esses elementos sem que lho peçam. Penso que este executivo não quer ser fiscalizado e esconde demasiadas coisas. É que a Câmara Municipal não paga a 90 dias. Neste momento está a pagar quase a 9 meses. Por outro lado divulga informação de procedimentos que ainda não estão concretizados.
Como por exemplo?
Os novos Centros Escolares ainda não estão candidatados. No último relatório operacional do QREN referente à região norte, não há novas candidaturas aos Centros Escolares, a não ser daqueles três que o anterior executivo PS tinha feito a candidatura até 2009.
Mas os cinco Centros Escolares têm sido uma das bandeiras deste executivo. É grave se só há três candidatados?
É grave porque não se faz o trabalho todo como deveria ter sido feito. Veja, se o PS tivesse continuado a gerir a Câmara Municipal também iria fazer a candidatura desses dois Centros Escolares em falta mas segundo a realidade financeira da autarquia. Acho estranho quando o vice-presidente Vicente Pinto disse numa entrevista que não tinha os 11 milhões para construir os Centros escolares.
E não deve ter…
Os Centros Escolares não fecham nesse ponto. A Carta Educativa tem de ser cumprida e há que fazer a candidatura ao QREN. Nos actuais três Centros Escolares estamos a falar num total e 7 milhões de euros com 1,5 milhões da responsabilidade para o município. Por acho que há aqui demasiada tramitação de informação errada em relação ao que é a realidade. Acho estranho que na informação que o executivo faz passar para a comunicação social, a bota não bata com a perdigota.
Paulo Duarte
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